JollyRoger 80´s

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quinta-feira, 10 de novembro de 2011

A Missão de Rambo

Durante a década de 1980 uma das mais presentes temáticas nas produções cinematográficas norte-americanas foram os filmes de guerra. O contexto da época era o de um mundo marcado pela bipolaridade, dividido e sobre influência de dois blocos ideológicos. A chamada Guerra Fria tinha o Capitalismo e o Comunismo representados pelos Estados Unidos e URSS respectivamente.



As duas nações disputavam áreas de atuação ao redor do mundo e empreendiam uma corrida armamentista sem precedentes. A ameaça de um conflito atômico era uma realidade e gerava uma grande tensão entre os países. Além de ogivas nucleares os americanos tinham o seu cinema como grande arma. Uma arma muito poderosa e ideológica onde os danos podem ser sentidos na alma. 

Nesse capítulo pretende-se abordar as ideologias explicitas pró-alinhamento nos filmes de Hollywood cujo foco central da trama era o conflito político e ideológico entre as duas mais poderosas nações do mundo. As produções contínuas, industriais desses filmes acarretaram bilhões de dólares em bilheteria.  

Durante muito tempo os Estados Unidos mantiveram uma imagem de invencibilidade. Imagem que só veio a se desmantelar após os atentados de 11 de setembro de 2001. O mérito dos filmes nesse processo de construção do imaginário não deve ser subestimado, muito menos ignorado. 

Os filmes da série Rambo, personagem interpretado por Sylvester Stallone cumpriram bem esse papel. O personagem herói da guerra do Vietnã gerou vários outros clones desde sua estréia em 1982. No geral, todos os outros como "Braddock", interpretado por Chuck Norris tratam do tema do retorno ao Vietnã, a ferida aberta no orgulho norte-americano. 



Os norte-americanos são retratados como heróicos, justos e virtuosos enquanto os vilões comunistas são tidos como sujos, covardes e eternos comedores de criancinhas. Ou seja, antes de ser simples formas de entretenimento essas produções são dotadas de intensos simbolismos. O homem americano é sempre vítima de ameaças externas, sejam de outras raças ou governos. E a maneira mais lógica apresentada nesses filmes para sua emancipação é geralmente através da violência. O cinema norte-americano retrata o estrangeiro de uma maneira estereotipada seguindo uma tradição hollywodiana maniqueísta da luta simples entre o bem e o mal.


Geralmente os filmes representam o contexto da época de sua produção. O segundo exemplar de Rambo (Rambo First Blood part II) apresenta o herói retornando ao Vietnã com a missão de apensas fotografar campos de prisioneiros de guerra. No decorrer da trama acaba por resgatá-los. Os vietnamitas estavam sob a liderança de um militar de alta patente russo. Este foi lançado no Brasil em 1985 como “Rambo II A Missão”. 


Um aspecto bastante curioso ressaltado por Douglas Kellner é o de como o personagem mesmo sendo um representante dos valores conservadores da era Reagan consegue abarcar valores da chamada contracultura. Rambo usa o cabelo comprido, come alimentos naturais, é próximo à natureza e hostiliza a burocracia do Estado. O mesmo tipo de postura dos contraculturalistas da década de 60. Isso é um exemplo de como o sistema é capaz de incorporar qualquer tipo de modismo ou rebeldia e neutralizá-los em seus valores originais.


Em 1988 o terceiro filme da série apresenta John Rambo no Afeganistão indo ao resgate de seu amigo Coronel Trautman, mantido prisioneiro pelos russos. Em ambos os filmes os russos são visualmente personagens sujos, sempre suados e adeptos de métodos de tortura. Rambo se une com os rebeldes afegãos e consegue derrotar o inimigo em comum. O filme Rambo III foi dedicado ao valente povo do Afeganistão. País invadido pelos EUA nos primeiros e questionáveis conflitos dos anos 2000 à procura de Bin Laden.

Douglas Kellner salienta que para realizar uma crítica ideológica multicultural de Rambo seria necessário, além de atacar sua ideologia militarista imperialista, também criticar as figuras e discursos que compõe a problemática sexual e racial. As questões militaristas do filme servem como legitimação da intervenção em áreas como o sudeste asiático e o Oriente Médio.

A imagem guerreira, poderosa e inocente do personagem endossam a ideologia masculinista e patriótica muito presentes na Era Reagan. Uma era de recessão econômica e de política de intervenção externa. Rambo inclusive ganhou uma versão em desenho animado em que atuava em conjunto com uma equipe composta de uma mulher de traços orientais e um outro personagem negro.



Lutando pelos nobres ideais de "liberdade" e justiça, esses dois personagens animados cumpriam seu papel numa posição hierarquicamente inferior à Rambo. A série de animação deu um novo gás para a fabricação de brinquedos que junto com os famosos G.I. Joes (Comandos em Ação) da época alimentavam nas cabeças infantis a empolgação e o deslumbramento pela estética militar. 

O ator Sylvester Stallone encarnou como ninguém o soldado americano, no sentido que seu outro famoso papel, o do boxeador Rocky Balboa também foi usado como propaganda do ideal ianque (no filme Rocky IV) frente às adversidades e em oposição aos rivais soviéticos.


*Este texto é parte integrante do 3° capítulo "Mundo simples: O Bem e o Mal. Representações e política" da minha monografia "A Indústria Cultural e a apropriação da História" apresentada em março de 2009. (Graduação em História -UERJ)

Um comentário:

  1. "A vida, a garra e a coragem do seu coração!"

    http://www.youtube.com/watch?v=M38pmN9_SVA




    [Mais que ele, só o Machete!!!]

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