Sociedade.
“Reunião de homens e mulheres que vivem em grupos organizados; corpo social;
Conjunto dos membros de uma coletividade sujeitos às mesmas leis; União
de várias pessoas que acatam um regulamento comum; Associação de pessoas
que têm algum bem em comum.”
Definições
eficazes, tendo em vista o grau de complexidade de uma
sociedade. Complementando, indivíduos vivendo em grupos e subgrupos,
ambos englobados em classes sociais definidas por sangue ou capital
acumulado. A vida em sociedade consiste, resumidamente, em uma
desesperada luta para ascender socialmente ou pelo menos manter-se
estagnado.
Ao conjunto das estruturas sociais, religiosas, das manifestações intelectuais e artísticas de uma sociedade denominamos como sua Cultura. Os indivíduos são seres que se comunicam através de símbolos e associam significados aos símbolos. Mas, principalmente, têm a capacidade de atribuir um Valor à esses símbolos, ao contrário dos animais.
Os Valores de uma sociedade não são totalmente explicitados, mas sim absorvidos, assimilados, se materializam nas sensações humanas e fazem parte de sua Cultura. Os valores mais coercitivos são também os mais sacralizados como, por exemplo, o incesto, que está presente em muitas sociedades.
Os Valores são complicados de serem destruídos e um Valor só é substituído por outro. Os Valores das sociedades ocidentais, industrializadas, capitalistas criam modelos comportamentais padronizados onde os indivíduos (principalmente moradores das grandes metrópoles) enquadram-se em regras e papéis pré-estabelecidos.
No entanto, também se fazem presentes alguns movimentos questionadores de valores, como o Movimento Negro, O LGBT e o Feminismo. E de que maneira se configura na atualidade a transmissão dos valores?
A Televisão vem se constituindo desde a segunda metade do século XX como a principal divulgadora de fatos (tidos em grande parte como verdades absolutas), tendências, de entretenimento e principalmente como a grande formadora de opiniões e transmissora dos Valores.
Como uma sociedade habitando uma grande metrópole cosmopolita como o Rio de Janeiro, ou mais amplamente, um país como o Brasil, reage a tudo o que invade seus lares 24 horas por dia com sua permissão ou não?
É muito interessante tentar analisar as consequências provocadas na sociedade carioca como um todo, influenciada pelos Valores disseminados pelas redes televisivas brasileiras, que destinam uma considerável parte de sua programação para programas religiosos e outros de cunho sexual.
Principalmente se focarmos na porcentagem da população, que com acesso negado, por um Estado ineficiente, às condições básicas de educação, saúde e lazer, podem vir a apresentar dificuldade no desenvolvimento de um raciocínio crítico que os tornariam mais imunes à influência dos discursos.
A compreensão dessa sociedade em transformação, que vive um período de intensos choques culturais, resultados da gradual destruição de Valores e sua posterior substituição por outros é muito importante. Assimilar o paradoxo de viver em uma sociedade erotizada, onde a vida sexual inicia-se cada vez mais cedo, onde o “pecado” é consentido e estimulado durante um feriado (Carnaval) e onde a busca desenfreada por audiência leva as emissoras a exacerbarem na dose de erotismo de suas atrações é algo curioso.
No sentido de que a mesma televisão propaga um outro tipo de discurso, de Valores completamente diferentes, mas igualmente fortes: os da monopolizante Igreja Universal do Reino de Deus, assim como de outras empresas religiosas neopentecostais.
Uma sociedade deve abarcar indivíduos que trabalhem para o bem comum, mesmo que estes se constituam em grupos diferentes. Quais são as consequências esperadas para uma sociedade desigual, com tão pouca experiência democrática sendo bombardeada incessantemente com discursos de Valores completamente antagônicos?
Considero importante expor a atitude dos religiosos, que fazendo uso de sua popularidade, da confiança e dos votos depositados nas urnas eletrônicas pelos fiéis adentram em carreiras políticas. E usufruindo da máquina do Estado trabalham muitas vezes visando os anseios de grupos restritos da sociedade e criando ou aprovando leis, que muitas vezes beneficiam seus interesses diretos.
Assim como demonstrar que em nome de grandes interesses (econômicos e governamentais) a televisão tornou-se um espaço dominado por inúmeros programas religiosos e outros com conteúdo sexual. De um lado, os "apresentadores" pastores e bispos trabalham com um discurso de transmissão de Valores que, muitas vezes, pregam a desunião, a discriminação e a intolerância.
Isso em uma sociedade caracterizada por diversidades culturais, sociais e religiosas. E na contramão desse processo tem-se a programação de culto à libertinagem, à prostituição e à sexualização de crianças e pré-adolescentes que demonstra ser uma manobra política cujo objetivo é a alienação disfarçada de pós-moderna liberdade sexual.
Por fim, é interessante e algumas vezes revoltante analisar tais questões. Talvez demore a concluirmos até que ponto certas mudanças de comportamento, de pensamento, ideias, opiniões se deram de maneira “natural” ou foram ferozmente influenciadas ou impostas por grandes meios de comunicação.
As consequências de todo esse complexo processo de disseminação maciça de valores antagônicos, em uma sociedade multifacetada como a brasileira já são visíveis para os que não vivem de olhos bem fechados.