JollyRoger 80´s

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sábado, 24 de dezembro de 2011

Pulp



Pulp-se um pouco mais nos links abaixo mother fucker!

Indústria da Moda e do Sexo Anoréxico parte II

Essa postagem é uma continuação da discussão iniciada em ''Indústria da Moda e do Sexo Anoréxico". Leia a primeira parte! 

Roger Marques_ Não concordo que essa questão possa ser chamada de "falso problema". Entendo que a indústria cinematográfica esteja vinculada à da moda e que o objetivo antes de criar arte seja criar lucro. Pelo menos da parte dos financiadores das indústrias e não dos artistas necessariamente. Modelos serem desprovidas de alma e corpo parece que sempre foi regra. O curioso é esse padrão ter se estendido para a vitrine do cinema, na medida que o modelo anoréxico não é o mais atraente para os consumidores imagéticos de mulheres.



O ponto central é: No cinema eles querem vender sexo! Em grande parte dos casos é um sexo pausterizado. No cinema pornô é sexo, exacerbado, exagerado e cheio de supostas idealizações e fetiches. 

Por mais interessante que seja eu questiono as afirmações de Deleuze sobre a anorexia ser um ato político de não sujeitamente à regras. Isso é questionável. Enxergo a auto-flagelação do anoréxico não como uma negação das normas, mas talvez como a aceitação total a certos padrões impostos. E quando Deleuze fala da anorexia como sendo um ato político, como sendo um protesto feminino ele confere à doença um caráter ideológico. Enquanto que um doente pode ser apenas um fraco sem noção das consequências de sua talvez alienação e baixa auto-estima. 


Marcela Fernandes_ Tenho minhas dúvidas se o cinema hollywoodiano – pelo menos o de agora – cria arte no sentido original dessa palavra. Se se restringe o sentido de “arte” a efeitos 3D e a outros artifícios "fodásticos" e ensurdecedores da tecnologia, pode até ser que Hollywood produza arte (a qual, particularmente, não me agrada muito).



Desconfio também se a atriz/artista hollywoodiana tem autonomia para não querer se enquadrar no padrão de beleza ditado por essa indústria. Ainda que elas façam um filme “cult” (que foge um pouco dos temas e efeitos batidos), não permanecem nessa linha, não é vantajoso pra essa atriz criar carreira aí, não dá bilheteria.



Estão sempre à procura de papéis que coloquem sua imagem destacada. Atores/filmes alternativos não são vetores por onde a indústria da moda possa propagar seu poder, enfim. E, por isso, nem sei se vejo com nitidez uma separação entre os objetivos da indústria de moda (seus financiadores) e os dos artistas. Os interesses já estão, há muito, entrelaçados, confundidos.

Nem sempre foi regra as modelos serem “desprovidas de alma e corpo”, como você disse. A magreza como sinônimo de beleza, na moda, vem dos anos 90 pra cá, acredito.  Assisti a uma entrevista da lindíssima (e não magérrima!) Luiza Brunet relatando como era a “beleza” em sua época de passarela: curvas, coxas, quadril, cintura e peitos! E se voltarmos mais no tempo, a beleza vai ficando mais roliça ainda! 



De novo: não acho tão curioso assim o fato da magreza anoréxica ter se propagado no cinema, já que cinema hollywoodiano e moda caminham lado a lado (e a moda de agora é a magrelice!)... E o fato de não achar tão curioso não significa que não me espanto com a magreza de certas atrizes. Também acho estranho! É de fechar os olhos!  “(...) na medida que o modelo anoréxico não é o mais atraente para os consumidores imagético de mulheres.” (suas palavras).



Eu acho que você tá sentindo falta de sex appeal nas atrizes de filmes “normais”. Você disse: “No cinema eles querem vender sexo!”... 

Não acredito que a intenção de agora, de Hollywood, ainda seja essa (pelo menos não é essa a primeira intenção de venda). Lembra do que o Zizek fala da falta de cenas de sexo nos filmes, naquele vídeo que mandei pra você trocentos anos atrás? Dê uma olhada na análise dele. É bem interessante e pode contribuir com essa questão, quem sabe?

Quanto a Deleuze... é uma outra abordagem. Só citei pra fazer um link com outros assuntos. 


Roger Marques_ Não se esqueça que não podemos generalizar totalmente! Alguns poucos cineastas e atores ainda fazem trabalhos interessantes, artísticos. Mas como no geral a maioria faz produtos puramente comerciais acredito que podemos dizer que essa seja a regra da Hollywood atual. E sexo é o que mais é vendido sim. 

No cinema e principalmente na música! Quando abordo a poderosa indústria da moda tenho em mente o contexto internacional que preza por esquelética estética. No Brasil a mulher farta, a chamada "gostosa" ainda é status quo. 







As observações de Zizek dizem respeito à uma nova tendência conservadora. Dessa não atividade sexual entre os personagens dos filmes. Dos anos 80 para trás isso já ocorria, mas somente se o casal protagonista fossem de etnias diferentes. São raros os filmes em que um negro levava uma branca para cama. 

Talvez essa negação do sexo entre os personagens dos filmes seja uma alegoria que expresse a falta de apetite sexual que as anoréxicas possam causar nos homens. Falando sério, quando digo "consumidores de mulheres" é em tom de ironia, afinal todos somos consumidores da indústria cultural, cinema e suas atrizes inclusos. 

Luiz Fabiano Tavares _ Fantástica discussão! Concordo com vocês, sexo e mulheres são tratados como mercadorias. Aliás, há muitas décadas, André Malrauxjá dizia que a droga dos chineses era o ópio, a droga dos árabes o hachiche, e a droga ocidental, a mulher. 

Creio que talvez seja mais acertado dizer, no caso da indústria cultural, que o sexo é o produto, e as mulheres a embalagem. E, como sabemos, nem sempre a embalagem e o produto são uma coisa só. Pelo contrário, muitas vezes a embalagem é feita para ocultá-lo, eclipsá-lo.


Aliás, retomando a metáfora de Malraux, o sexo é a verdadeira droga, nesse caso; a mulher, então, seria apenas o papelote! rs Como droga, é consumido pelo efeito estupefaciente, para que o usuário escape, momentaneamente, da sua vida de merda e goze (com trocadilho) de alguns breves momentos de “felicidade”. 

Creio que cada vez mais o sexo seja a “grande realização” de literalmente milhões de pessoas que nada realizam. Afinal, que é o “pegador”, senão alguém que esqueceu do prazer do sexo para se tornar mero acumulador de fichas num cassino imaginário?

Sexo virou trabalho: tem que se produzir em quantidade cada vez maior, sem esquecer do desempenho e da produtividade, é claro.  Embora a maioria das pessoas não seja “profissional do sexo”, está se formando uma multidão de “operários do sexo”. Só falta bater cartão de ponto! Em lugar de experiência gratuita, relaxada, refazedora, livre, torna-se uma atividade “regulamentada” por inúmeras metas de produção.



Em certo sentido, podemos pensar no sexo enquanto atividade alienada ou como fetiche, não numa conceituação freudiana, mas marxista. Como o operário industrial, o “operário do sexo” produz uma “mercadoria” em que não se reconhece, porque não é sua; a produziu atendendo aos interesses de um capital que lhe é externo.

Por outro lado, é fetiche como a mercadoria também o é, a saber, algo feito e criado pelo homem, mas que o domina, torna-se objeto de adoração externa e distanciada; vem de dentro dele, mas está fora dele. Aliás, é sempre interessante lembrar da origem do conceito de fetiche, os ídolos das “culturas primitivas”, imagens de barro feitas pelo próprio homem, mas que o dominam.



Após essa longa deambulação, voltemos à industria hollywwodiana, aos pornôs, etc. Talvez a resposta seja mais simples que parece. Para diferentes setores do “mercado”, mercadorias diferentes. Há muitos interesses envolvidos, muitas indústrias diferentes (da moda, dos cosméticos, dos farmacêuticos, do sexo). Cada produto precisa da embalagem correta para ser vendido. Nada mais natural que diferentes mulheres-embalagem sejam usadas para verder produtos diferenciados. 



Para a indústria farmacêutica ávida de vender medicamentos para emagrecer, embalagem-mulher-magra. Para a indústria do sexo (aqui no sentido mais amplo), embalagem-mulher-farta. Aliás, devemos levar em conta que mesmo o sexo-mercadoria é vendido para públicos diferentes, especialmente mulheres e homens. 

O desejo feminino em relação à mulher-embalagem é necessariamente diferente do masculino. Para o homem, objeto de consumo; para a mulher, paradigma. No fim, tudo se vende, e quanto menos satisfeita fica a multidão de consumidores, melhor para a indústria. A indústria não odeia nada tanto quanto o consumidor satisfeito, no sentido existencial da palavra; este, afinal, é alguém que não volta a consumir.




Indústria da Moda e do Sexo Anoréxico

A grande maioria das atrizes da Hollywood contemporânea são desprovidas de certo sex appeal, muito devido ao padrão estético anoréxico ostentado pelas mesmas. Dizem que gosto não se discute, mas apesar dos estereótipos, parece que mulheres realmente bonitas no cinema não estão mais em profusão em Hollywood.

Observo com curiosidade, pra variar, esse novo padrão de beleza imposto pelos poderosos da Indústria Cultural. Nos anos 1950 as modelos e atrizes apresentavam corpos esculturais vide Marylin Monroe, Rita Hayworth, Jane Mansfield. Ou pin ups um tanto exóticas como Bettie Page. O objetivo primordial sempre foi chamar atenção pela beleza das mulheres. 



Mas se formos analisar como elas são representadas no pornô ou como as personagens femininas são ilustradas nas histórias em quadrinhos, perceberemos que o são de maneira voluptuosa e provocante. O que não acontece atualmente na dita 7° arte. Qual então seria o critério? Se um tipo de padrão é usado para alavancar vendas de quadrinhos tentando fisgar o público adolescente e esse mesmo padrão dita as normas no mercado erótico/pornô fazendo com que faturem milhões por ano, não seria "natural" que as atrizes do cinema seguissem essa linha? 



Por que as atrizes parecem cada estar cada vez mais magras de uma maneira visivelmente nada saudável?

Roger Marques_ Eu não acho que o papel das mulheres/atrizes deva se restringir ao apelo sexual! Isso é óbvio! Mas temos que concordar que mais do que nunca tudo gira em torno de sexo! No Brasil então... O curioso é que quanto mais se vende sexo mais se desenvolvem instrumentos de repressão.



E acho que apelo sexual não está limitado à anatomia. Inteligência e personalidade são potentes afrodisíacos. Mas minha intenção no texto foi analisar os padrões estéticos de beleza e sua variação nas diferentes mídias.

Marcela Fernandes_ Eu não sei por que essa é uma questão que tira tanto o seu sono. É o que pode se chamar de um “falso problema”. Na verdade, não vejo mistério algum nisso (veja bem, eu disse que EU não vejo mistério algum, pelo menos não desse jeito que você parece ver). 

Parece tão óbvio (eu disse “parece”) que a indústria do cinema (Hollywood) está tão acopladamente fundida à indústria de moda... “normal” que as atrizes não sejam mulheres reais e sim de uma magreza imposta por essas indústrias. Elas têm de ser - como diz minha avó - “cabides”.



Cinema hollywoodiano vende, em última instância, moda. E moda como sendo o resultado do que chamam de “tendência” (histórico-filosófica, que seja) – e tudo isso não é uma escolha aleatória, vão dizer os especialistas nessa área. Várias coisas estão em jogo quando um padrão de beleza é o ‘boom’ do momento.



Bem, filme pornô não me parece vinculado à indústria da moda (= glamour, passarelas e etc.), não mesmo! A magreza anoréxica não tem razão de ser ali... minaria o propósito em jogo



É fascinante a abordagem feita por Deleuze ao explicar a forma como o desejo é “podado” pela psicanálise. Lá pelas tantas, ele fala da anorexia como sendo uma espécie de artifício (um protesto) do corpo em relação à mecânica que lhe é imposta, uma manobra de “fuga”, de não-assujeitamento a regras, a normas e etc (= política).

A expressão “corpo sem órgãos” é bem interessante, conhecidíssima no pensamento de Deleuze, e traz à discussão exatamente o tema da anorexia. 

"(...) O anoréxico compõe para si um corpo sem órgão com vazios e cheios. Alternância de enchimentos e de esvaziamentos: as devorações anoréxicas, as absorções de bebidas gasosas (...) Não se trata de uma recusa do corpo, trata-se de uma recusa do organismo, de uma recusa do que o organismo faz o corpo sofrer. 

De modo algum regressão, e sim involução, corpo involuído. O vazio anoréxico não tem nada a ver com uma falta, é, ao contrário, uma maneira de escapar à determinação orgânica da falta e da fome, à hora mecânica da refeição. Há todo um plano de composição do anoréxico, para fazer um corpo anorgânico (...) 

A anorexia é uma política, uma micro-política: escapar às normas do consumo para não ser objeto de consumo. É um protesto feminino, de uma mulher que quer ter um funcionamento de corpo, e não apenas funções orgânicas e sociais que a entreguem à dependência (...) O anoréxico é um apaixonado: ele vive de várias maneiras a traição ou o duplo desvio (...)

 Em suma, a anorexia é uma história de política: ser o involuído do organismo, da família ou de uma sociedade de consumo. Que a máquina não seja um mecanismo, que o corpo não seja um organismo, é sempre nesse ponto que desejo agencia.”

Roger Marques _ Não concordo que essa questão possa ser chamada de "falso problema". Entendo que a indústria cinematográfica esteja vinculada à da moda e que o objetivo antes de criar arte seja criar lucro. Pelo menos da parte dos financiadores das indústrias e não dos artistas necessariamente. Nas passarelas internacionais parece que sempre foi uma regra que as Modelos fossem desprovidas de alma e corpo. 



O curioso é esse padrão ter se estendido para a vitrine do cinema, na medida em que, o modelo anoréxico não é o mais atraente para os consumidores imagéticos de mulheres.



Nada ali é feito de maneira aleatória, como você mesma disse, mas tanto o padrão anoréxico das modelos de passarela e cinema, como também o das siliconadas curvilíneas do pornô são padrões exagerados, irreais e criados industrialmente. 

E quando as atrizes que estão imersas nesse padrão de magreza interpretam super-heroínas ou personagens com atrativo sexual exacerbado o resultado pode ser constrangedor. Consegue imaginar Jennifer Aniston interpretando a Vampirella?



E Kirsten Dunst está muito longe do visual da Mary Jane das Hqs.



Resumindo, o ponto central é: No cinema eles querem vender sexo. Um sexo pausterizado, ok! No cinema pornô é sexo, exacerbado, exagerado e cheio de supostas idealizações e fetiches. O mundo inteiro consome pornografia. Talvez esse mercado fature mais que o cinema "sério".  Não seria mais lucrativo e não corresponderia mais as expectativas consumistas do público se as atrizes (assim como acontece no Brasil e Europa) tivessem um aspecto mais "saudável"? 



Não precisariam ter os corpos voluptuosos das musas do passado, mas...

E sobre o que Deleuze disse sobre a anorexia ser um ato político de não sujeitamente à regras... é questionável. Ele filosofa tão poeticamente que quase dá pra aceitar, mas não concordo. Vejo também a auto-flagelação do anoréxico não como uma negação das normas, mas sim como a aceitação total aos padrões.



E quando Deleuze fala da anorexia como sendo um ato político, como sendo um protesto feminino ele confere à doença um caráter ideológico. Enquanto que um doente pode ser apenas uma pessoa sem noção das consequências de sua talvez alienação e baixa auto-estima.

Rogério Marques é Mestre em História Social e Arquivista.
Marcela Fernandes é Mestra em Filosofia.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Photoshop mental





O controle e a escolha muitas vezes arbitrária de padrões de beleza acabam por fazer com que as mulheres sintam-se obrigadas a enquadrar seus corpos no dito padrão. Mas talvez não percebam que suas mentes foram enquadradas e padronizadas primeiro. E os homens que valorizam e se excitam apenas com certo modelo estético talvez não tenham consciência que perderam o controle de sua própria libido.



Isso é lamentável porque escravidão tem limite. O photoshop não é O vilão, mas sim uma das estratégias de controle industriais. Não digo “O” vilão porque senão caímos nos ultrapassados discursos maniqueístas que eu abomino. Não existem heróis e vilões, mas conflitos de interesses que mesmo que não estejam focados somente em questões econômicas acabam sempre se manifestando também dessa maneira.



Acredito que com equilíbrio (quase) tudo pode ser experimentado, usado, apreciado. E vale ressaltar que o fator dinheiro pode transformar qualquer coisa, para o bem e para o mal.  Não acho a aplicação de silicone algo condenável se uma mulher não tiver busto algum e se sentir mal com isso.  Portanto, ser ESCRAVA alienada de padrões está fora de moda!



Leia também:

Malucos, mulherzinhas e pseudo-intelectuais. Máscaras Sociais.




Um maluco nunca se enxerga como maluco.
E um pseudo-intelectual age da mesma forma.

Existem milhares de pessoas que até são inteligentes, mas que por excesso de vaidade, necessidade de agradar e busca por autoafirmação vestem uma série de máscaras sociais. No entanto, depois de um bom tempo essa fachada de mentira passa a soar como verdade na cabeça dessas pessoas.

Então, esse indivíduo "absorve", assimila conhecimento, estilo e gostos de outrem como se fossem seus. Até que nem ele(a) mais saiba realmente o que era seu ou o que poderia "ser seu" naturalmente. A fachada, a imagem se torna a máscara real para essa pessoa. Por fim, esse pseudo-intelectual, pretenso "cult" e denominações afins não se enxerga como uma farsa!



Os Valores de uma sociedade não são totalmente explicitados, mas sim absorvidos, assimilados, se materializam nas sensações humanas e fazem parte de sua Cultura. Os Valores são complicados de serem destruídos e um Valor só é substituído por outro. Os Valores das sociedades ocidentais, industrializadas, capitalistas criam modelos comportamentais padronizados onde os indivíduos enquadram-se em regras e papéis pré-estabelecidos.





Muitos entendem como sendo realidade o mundo compartilhado por todos em sociedade. E o que eu vejo atualmente é uma sociedade de pessoas com necessidade de autoafirmação e identidades dúbias fragmentadas. Uma sociedade onde por exemplo, o bandido marginal é um modelo de comportamento a ser seguido. Seguindo esse raciocínio quem não compartilha desses valores acaba por viver, de certo modo em um mundinho particular. No final das contas somos todos realmente malucos. 

Uma jornalista que gosto muito, Eliane Brum, escreveu em sua coluna sobre as máscaras que os indivíduos vestem para sobreviverem em sociedade. A autora alerta que "Ninguém se iluda de que é absolutamente verdadeiro o tempo todo, até porque somos muitas verdades ao mesmo tempo e seguidamente elas são contraditórias." 

Em seguida ela faz outra observação muito interessante e verdadeira: "Aquelas pessoas que parecem muito "autênticas" porque são extrovertidas, dizem coisas chocantes, se arriscam no estilo, estão muito bem cobertas por suas máscaras e morrem de medo de serem reveladas. A máscara do “autêntico”, “louco” ou “excêntrico” é uma das mais corriqueiras. Este tipo faz piada com o ponto fraco dos outros, dando gargalhadas e batendo nas costas da vítima e, quando alguém reclama, uma meia dúzia de amigos sai em sua defesa dizendo que “é o jeito dele”."

Continuando..."Há o tipo “bonzinho” que, mesmo fazendo coisas horríveis e muito bem dissimuladas de vez em quando, é tão convincente no “foi sem querer” ou “ele jamais faria isso de propósito” que é imediatamente perdoado.



Existe a “mulherzinha”, tão frágil que parece que vai quebrar a qualquer adjetivo mais eloquente. Esta manipula brilhantemente nossos mais primitivos instintos de proteção e, se você tem a coragem de dizer para ela tomar jeito e prescindir do diminutivo, imediatamente é você quem vira uma megera.




E há o seu oposto, “a mulher alfa”, esculpida a navalhadas, que se arma de sapatos de bico fino, terninhos de grife e cortes de cabelo modernos, mas práticos, para arrasar meio mundo a bordo de sua armadura como se o melhor produto do feminismo fosse uma mulher se tornar um clichê de homem. Enfim, são muitas as fantasias que vestimos para não sermos engolidos pelo mundo. Em geral não somos nem mesmo uma máscara definida, como as que acabei de expor apenas como recurso didático. 

Não somos Batman, Coringa, Gilda, Bambi ou Madre Tereza de Calcutá. Somos uma mistura de vários estereótipos. E, se é verdade que vestimos máscaras, também é verdade que não há um “eu” essencial – mas sim um “eu” fluido e incapturável, em constante movimento de mutação. E é nesta fluidez do eu, que não pode ser confundida com ausência de rosto, que residem nossas verdades mais profundas." (...)

Eliane Brum escreve semanalmente na Revista Época e o artigo "Quando a máscara vira rosto" você pode encontrar completo no seguinte endereço: 

http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/noticia/2011/10/quando-mascara-vira-rosto.html


Na selva social, os mascarados Pseudo-intelectuais se reproduzem igual Gremlins. Cada vez que se molham ou comem depois da meia-noite!




Ou cada vez que "leem" um texto de Foucault.

Ou quando salpicam Nietzsche. Ou Clarice Lispector.
E quando alardeam que adoram Tim Burton...


(...)





Veja também:

domingo, 18 de dezembro de 2011

ROMA: Prazer e Violência através das Civilizações



A frase "A História é feita pelos vencedores" muitas vezes parece ser uma máxima inquestionável. Em grande parte, acabamos ouvindo falar deles, só lemos sobre e só vemos filmes sobre eles. Exageros à parte, sabemos que não é bem assim, mas devemos ter em mente que na maioria dos casos é o ponto de vista dos mais favorecidos que permanece sob os holofotes da História. 

Com frequência, uma nação inteira é simbolizada por um único personagem. Fazendo uma busca minuciosa (no caso, a ambientação grega e romana), Catherine Salles no sua obra "Nos Submundos da Antiguidade" chama atenção para os personagens mudos da História. 

Os marginalizados, ladrões, prostitutas, comerciantes desonestos, gladiadores, escravos, homens simples, feiticeiras, charlatães, jogadores, artistas. Figuras componentes da sociedade sem grande destaque na historiografia, mas que são essenciais para uma visão mais completa e satisfatória do que foi o Mundo Antigo. É muito agradável se esbaldar com os grandes pensamentos dos filósofos gregos, maravilhar-se com toda a beleza da cultura helenística e com as grandes construções do Império Romano. 

No entanto, não menos interessante é mergulhar de cabeça na podridão, na lama e no sangue onde essas duas fantásticas civilizações solidificaram suas bases. E acima de tudo, perceber o quanto nossa sociedade assemelha-se com todo o "lixo" e a fúria greco-romanos. 

Habitando os bairros pobres de Atenas, Alexandria ou Roma, os desfavorecidos representam o descaso, o abandono e todas as falhas da estrutura social. Frutos podres de uma sociedade com um terrível desequilíbrio econômico, essa população teve seus direitos básicos limitados graças à uma serie de privilégios concedidos à uma minoria.


A autora destaca uma espécie de vazio social, elemento este que caracterizaria esses milhares de indivíduos que não pertencem à nenhuma classe e ressalta a dificuldade encontrada pelos historiadores em vasculhar detalhes sobre essas populações. Ao que parece, os Antigos (principalmente os gregos) não se ocuparam muito destes assuntos desinteressantes como: pobreza extrema, a prostituição e as formas de prazer oriundas desse mundo. 

Catherine Salles adverte sobre a suposta exatidão dos fatos narrados pelos textos dos autores antigos, afirmando que eles jamais se interessaram sinceramente pelos problemas morais, pelas questões de higiene física ou mental dos submundos de suas cidades. Portanto muitos acontecimentos podem ter sido relatados de maneira tendenciosa e preconceituosa.


A autora afirma que a busca incessante pelo prazer surge muitas vezes da violência e gera cada vez mais violência. O prazer na Antiguidade só existiria graças aos indivíduos miseráveis e explorados. Um pouco exagerado a meu ver. Em parte, a afirmação da autora faz algum sentido, visto que em várias relações amorosas existe um dominador e um dominado. 

No entanto, percebo na forma como ela analisa um certo viés marxista, que tenta enxergar TUDO através da lente da "luta de classes", "opressores e oprimidos". Ou seja, um pouco limitante, pois retira da análise histórica justamente o livre-arbítrio e sagacidade dos "oprimidos", dos habitantes dos submundos romanos. 

O prazer e a violência, a riqueza e a miséria. Por mais absurdo que pareça, um não existiria sem a presença do outro. Os romanos em especial perceberam e assimilaram esses paradoxos muito bem e com toda a sua exagerada filosofia de vida puderam tirar deles todo tipo de perversão e diversão, criando assim uma de suas maiores heranças para as futuras civilizações.




Roma: O Imaginário e Devassidão



Para a "compreensão" da sociedade imperial romana precisamos entender o valor atribuído por ela à ilusão teatral. É somente através do imaginário que se obtém o máximo de prazer. Os romanos viveram na busca de novas formas de prazer, sempre reinventando sua devassidão, travestindo o mundo real para novamente reencontrar o gozo da festa.

Brinca-se de representar. O rico brinca de ser pobre, o homem brinca de ser mulher (Esse tipo prazer não ficou restrito à sociedade romana). Vale tudo em nome da novidade, da excitação. O romano respeitado do alto de sua riqueza, do seu saber retórico que permite a composição de invejáveis discursos, encontra um sedutor encanto em empanturrar-se com alimentos de qualidade duvidosa e em ser possuído passivamente num quarto imundo.

E não parou por aí. Os prazeres da mundanidade popular são como uma epidemia e a representação foi realizada ao extremo. Senadores mesclaram-se aos gladiadores para lutar na arena; esse tipo de atitude fez com que uma série de senatus-consultos fossem criados no primeiro século do império, proibindo indivíduos das altas classes da sociedade (a ordem eqüestre e senatorial) de participarem de atividades não condizentes. Não obteve sucesso. E os descendentes de grandes famílias tornam-se dançarinos, atores de comédias e tragédias, jóqueis de circo, domadores de feras... As famílias se envergonham.


A "degradação" continuou. O que dizer dos imperadores que tornaram-se proxenetas? Será mesmo que Calígula criou um lupanar no próprio palácio e numa atitude até interessante, obrigou as esposas, filhas e filhos dos homens famosos a se prostituírem? Quem não tinha coragem ou dinheiro para fazer uso de tão respeitáveis mulheres foi incentivado e financiado (a juros) pelo imperador. Seguindo o exemplo de seu tio, Nero também organizou grandes festas onde não faltavam prostitutas, fossem da nobreza ou não, fossem virgens ou não.



Representando as mulheres depravadas temos Messalina, conhecida como a “puta imperial”, esposa do imperador Cláudio. Era dona de gostos pervertidos e (com outras mulheres menos famosas) pertenceu ao grupo de romanas da alta sociedade, liberadas e livres de tabus. O estilo de vida dessas mulheres não foi muito bem aceito e elas acabaram invariavelmente mortas (caso de Messalina) ou degredadas.

Antônio e Cleópatra deram o nome de vida inimitável à associação que formaram em Alexandria. Visando aproveitar o que há de melhor na vida, saíam pelas ruas (vestindo trajes humildes) fazendo algazarras. Em busca de novos prazeres, Nero também disfarçava-se e saía à noite acompanhado com seus seguranças. Nero destruía estabelecimentos, roubava mercadorias, espancava homens (com seu bando) e estuprava mulheres e rapazes. Acredita estar anônimo, mas suas ações acabam inspirando outros bandidos que se fazem passar por ele. 




O resultado é que em meados do século I nas ruas de Roma, um cidadão azarado já não sabe se está sendo agredido por seu imperador fantasiado de bandido ou por um bandido fazendo-se passar pelo imperador. Com o objetivo de ir cada vez mais longe nas redescobertas do sentido da festa, os nobres encontraram na paródia sacrílega o máximo da emoção. Já fazia tempo que não se acreditava mais nos múltiplos deuses do panteão. As cerimônias e demais manifestações religiosas são mantidas por questões políticas. A religião oficial era um meio de perpetuar a coesão do povo.

As famílias zelavam para que as tradições fossem mantidas e os que parodiavam a religião acreditavam estar indo contra a ordem social. Têm-se, então, o advento dos casamentos parodísticos pelos boêmios romanos visando uma total alteração da realidade e o jogo teatral. Resumindo ao extremo, era um casamento entre homens. Em 64, Nero "casou-se" com um certo Pitágoras, usando um véu alaranjado de noiva e também desposou um de seus eunucos. Nessa última, fez o papel de marido. A cena deve ter sido de uma meiguice absoluta.


Outros tipos de cerimônia são mais secretas, como a dos “Mistérios de Bona Dea” (divindade padroeira da fecundidade feminina). Esta era anualmente homenageada pelas mulheres na casa do principal magistrado de Roma. As senhoras, Vestais, celebravam ritos desconhecidos por todos. 

Esses ritos, provavelmente orgiásticos, povoavam o imaginário dos antigos e até influenciaram alguns devassos homossexuais à compor o tema de suas festas. Todas essas cerimônias servem como pretextos para distrações blasfematórias e pervertidas. 





Fonte: "Nos submundos da Antiguidade" de Catherine Salles. 

BONUS TRACKS:

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Roma e suas Tentações


Roma era uma cidade que possuía estabelecimentos hospitaleiros em profusão. Principalmente os fixados nos bairros populares e em locais de grandes concentrações como o grande circo e teatros. Os ditos estabelecimentos são modestas construções e em sua maioria pratica-se a prostituição.




As multidões que se aglomeravam nas tabernas foi motivo de preocupação das autoridades. Os Imperadores Tibério, Cláudio e Nero chegaram a proibir a venda de alimentos quentes, visando dificultar a reunião das pessoas, o surgimento de atividades políticas e impedir o risco de incêndios (suprimindo os fogões). As tabernas e bares possuíam má reputação e não atraíam pessoas mais refinadas (pelo menos num primeiro momento). Seus proprietários eram geralmente de origem servil e suspeitos de encobrirem atividades ilícitas.

Por Tertuliano, sabe-se que nos registros de "polícia" secreta de Roma tem-se como "suspeitos a vigiar" os bodegueiros, os jogadores de dados, os proxenetas e os cristãos. Uma gama variada de indivíduos que de uma forma ou de outra, poderiam representar uma ameaça à ordem pública. 

Os bares de Roma, assim como em Atenas, são pontos de encontro de marginais. O clima dos lugares é pesado e geralmente são espaços onde ocorrem violentas brigas e disputas. Como todo tipo de prazer deveria estar à disposição, as donzelas que trabalhavam servindo bebidas, também acumulavam a (talvez descomplicada) função de prostitutas.


Ou seja, os albergues também eram lupanares (prostíbulos). A sedução poderia ir ao encontro de qualquer um em qualquer lugar, pois todos os lugares (Foros, Teatro, Circo) são frequentados pelas profissionais. Pode-se encontrá-las também no templo de Ísis, pois seu culto é o preferido das prostitutas que obtém conforto na promessa de felicidade no além propagada pela religião isíaca. 

O Submemmium, a "rua das putas" já foi descrita como o "inferno" de Roma, abismo da decadência e do lodo. Espaços pequenos, sujos e fedorentos onde moças e rapazes estão esperando o momento de serem usados. Era um época mais difícil para as prostitutas, ao contrário de hoje em dia, em que é possível ganhar dinheiro e satisfazer clientes vendendo nudes e vídeos pelo instagram. 



Um dos divertimentos dos ricos romanos no Império era a Cena. Assim como os gregos, os romanos realizavam o banquete. Essa cena tinha por objetivo como grande arte dar uma aparência diferente aos alimentos. A cena é o mundo do teatro e da ilusão. Essas festas contavam com equilibristas, musicistas tocando flautas, dançarinas sensuais e figuras grotescas. 

Como grande atração tem-se as "Dançarinas de Gades" que movem-se libidinosamente executando danças de origem ibérica. Fazendo uso de castanholas, dando gritinhos obscenos ao requebrar o traseiro, elas procuravam excitar ao máximo os convidados.




Eis a imagem da orgia romana: COMER, BEBER, VOMITAR. Nas palavras da autora, uma festa triste. Será? Os romanos teriam ultrapassado os limites nos seus banquetes (diferentemente dos gregos). A cena romana expressa bem a cidade e seus habitantes: o máximo de exagero em todas as coisas. Mas é incorreto afirmar que toda a sociedade do Império estivesse mergulhada na orgia e depravação.


Com o estabelecimento do Império foi instaurada a "paz romana" com seus valores de retorno à vida familiar e às virtudes domésticas. Porém, isso não impediu que alguns ainda procurassem novas formas de prazer e divertimento com os marginalizados e excluídos. O acanalhamento da nobreza deveria ser considerada uma forma de  perversão.

No mundo romano nada poderia ser mais desonroso do que a figura do gladiador. No entanto, esses personagens exerciam um enorme fascínio e popularidade. Talvez seja devido à ideia alimentada pelos romanos do prazer ligado à morte. Em resumo, os gladiadores tiveram muitas mulheres, inclusive as de famílias nobres. Poder e fama atraem o fascínio das pessoas desde a Antiguidade por mais efêmero que sejam. A opinião da sociedade não mais importa nem infringe medo. 


As relações, antes proibidas são até ostentadas por alguns. Outras figuras como cantores, músicos, atores teatrais e mímicos, também desprezados, fizeram uso e foram usados por mulheres da mais alta sociedade. Por fim, as moças da nobreza misturavam-se orgulhosamente (?) com outras de classe mais baixa. Vale ressaltar que gladiadores e atores exerceram também um fascínio sobre os maridos e irmãos das grandes damas.

                                                                   El Satiricón de Petronio


Fonte: "Submundos da Antiguidade" de Catherine Salles.